Calango do Cerrado - Humberto Firmo

domingo, 14 de junho de 2009

Dentro da Poesia Matuta


Um vento raspando por cima dos versos
arrepiando os cumes das letras.
Um piar de Jacu no galho de cada estrofe
Um sapo coaxando sobre um hiato brejeiro
Um versejar de abelhas rondando a palavra melado
Entre um parágrafo e outro
tá lá, depois da porteira, um cavalo pastando.
Um mugir sonoro de gado, reticenciando-se
ao fim de um pensamento inacabado
Uma pontuação com pingos da chuva
sobre um chão de palavras encadeadas
Um cheirinho de cozinha roceira
exalando sabor por entre virgulas bem temperadas
Uma frase feita com condimentos de especiaria fina
realçando o sabor e compondo a iguaria da poética
Um som de cachorro latindo ao longe
como no repetir de uma rima
no meio de duas palavras um gole de água de moringa
para o refrigério da alma
Um cair de fruta madura no quintal
como exclamação do que está propício e maduro.
Um prosear entre silêncios de uma fala e outra,
de um silêncio à outro como no uníssono da passarinhada
O sombrear de uma mangueira cobrindo a palavra “Pomar”
Um borbulhar de bica descendo pelas calhas das entrelinhas
versificando...

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